Um artigo escrito por Yuval Noah Harari, autor do livro Sapiens, para o jornal Financial Times, contextualiza o momento atual com dois principais caminhos que vamos, invariavelmente, tomar. Cada caminho, uma maneira de agir. Aliás, vale ressaltar: já estamos caminhando.
Na maior crise da nossa geração, as decisões que as pessoas e os governos estão tomando, não está apenas moldando nosso sistema de saúde, mas também nossa economia, política e cultura.
Já estamos nos perguntando como passar por essa ameaça que nos cerca, mas e se também nos perguntarmos: que mundo queremos habitar quando essa tempestade passar?
Porque sim. Essa tempestade vai passar! A humanidade vai sobreviver. Mas as escolhas que faremos agora mudarão nossas vidas e os anos que estão por vir. Vamos sem dúvida viver em um mundo diferente.
Ou melhor, já o estamos vivendo.
Uma das naturezas das crises emergenciais é que elas tem o poder de acelerar grandes processos históricos. Decisões que em tempos normais levariam anos de deliberação, passam em questão de horas. Tecnologias e decisões imaturas e perigosas são passadas pra frente rapidamente, pois o risco de não fazer nada é ainda maior.
Sendo assim, países inteiros estão servindo como experimentos sociais de larga escala. Por exemplo, o que aconteceria se todos tivéssemos que trabalhar virtualmente e se comunicar apenas a distância? E se todas as escolas e universidades fossem online? Bom, em tempos normais, governos não aceitariam essas ideias. Mas não estamos em tempos normais, não é mesmo?
Como em momentos de pandemia é necessário seguirmos alguns tipos de orientações, governos monitoram a população e punem aqueles que não seguem essas orientações. Agora, graças a tecnologia, os estados podem confiar em sensores onipresentes e algoritmos preciosos, e assim, conseguem monitorar praticamente a população inteira 100% do tempo.
De acordo com Yuval Noah Harari, nesse contexto, nós enfrentamos dois caminhos particularmente importantes:
O primeiro caminho é sobre a maneira que vamos agir para controlar as pessoas e combater essa pandemia. Uma das escolhas dentro desse caminho é entre uma vigilância governamental autoritária, que usa, terrivelmente, da nossa busca por saúde para implantar novas ferramentas de controle. Porque dar às pessoas a chance de escolher entre saúde e privacidade não é apenas uma escolha injusta, é uma ilusão. Já que as pessoas escolherão sempre a saúde, evidentemente.
A outra alternativa neste primeiro caminho está no empoderamento da população, onde através de ações coletivas e respeito mútuo chegamos ao melhor resultado. Por exemplo, realizar o maior número de testes possíveis, reportagens honestas e o desejo de uma cooperação das pessoas bem informadas.
Uma população motivada e bem informada por fatos científicos, quando confiam nas autoridades públicas para dizer a elas sobre esses fatos, é normalmente mais forte e eficiente que uma força autoritária sobre uma população ignorante.
No segundo caminho, nos confrontamos com a escolha entre o isolamento nacional e um solidariedade global. A epidemia por si só e a crise econômica resultante só podem ser resolvidas efetivamente através de uma cooperação global.
Ao invés de cada país tentar resolver seus problemas sozinhos e regionalmente, deviam desejar compartilhar informações entre si, e poder confiar nos dados e insights que são passados abertamente. Precisamos de um esforço coletivo para produzir e distribuir equipamentos médicos a todos que precisam. As nações que estão em melhor situação agora, deveriam ajudar as que estão precisando mais neste momento. Assim, podendo confiar que no futuro também possa contar com aqueles que estiverem em uma situação melhor.
“A humanidade precisa tomar uma decisão. Nós viajaremos na rota da desunião, ou adotaremos o caminho da solidariedade global? Se nós escolhermos a desunião, isso não apenas prolongará a crise, mas provavelmente resultará em catástrofes ainda piores no futuro. Se nós escolhermos a solidariedade global, isso será uma vitória não apenas contra o coronavírus, mas contra todas as futuras epidemias e crises que podem atacar a humanidade no século XXI.” – Yuval Noah Harari